A vida

Olhem bem, a vida nos dá tudo e não nos cobra nada Se um dia ela pede de volta esta pele emprestada É porque na verdade nunca fomos proprietários dela E há quem desperdice a vida com questoẽs da propriedade! Como se um hóspede num albergue se quisesse passar por dono

Eu sentirei saudades da primavera Mas ela certamente nao sentirá saudades de mim Serei amanhã o meu filho E depois de amanhã os filhos do meu filho serão como um dia fui Como sentir saudades de quem está sempre por perto?

Se eu não tiver filhos, não importa Não me faltarão os irmãos mais velhos O sol e as estrelas maiores, o espaço supostamente vazio entre elas A água, as cores, os sons, as sensações

Digam o que quiserem, Uma vida é so um pequeno instante Mas este pequeno instante impregna a eternidade Passado este pequeno instante Deixamos pra amanhã o que vai acontecer Se vai acontecer ou não!

Não reside nisso solidão alguma Moro em mim mesmo mas me habita todo o universo Que nome eu mereceria se eu fosse realmente sozinho? Não teria nome nenhum, não haveria nem linguagem Nem fonética para o meu nome, Nem a comida que meu corpo consome ou a energia que ele produz Tudo isso é fruto de uma infinita colaboração

À parte isso, muito me intriga que eu possa sentir só a mim mesmo Quando tantas e tantas vezes, constantemente, Eu queria me sentir nos outros e os outros Mas meu esforço só é capaz de mover a mim mesmo (O que será que move meu esforco?)

E então sinto vontade de ser iluminado E esta vontade me faz esquecer de que eu já o sou Aí a Vida se encarrega de eternizar somente a minha luz E esperar que a outra parte se desgaste e se repita

As vezes a vida parece ignorar a lógica Os que se apaixonam demais pela lógica não entenderão a vida por completo A lógica de um tempo é ridicularizar a lógica do tempo anterior E as grandes questões, enquanto isso, passam inabaláveis pelas eras

  • Jota Teles