Discurso sobre a burocracia

Tantas gavetas justificam estes tantos papéis Que não justificam nada Um rosto qualquer emoldurado num 3×4 Fita, sem saber, o olhar inerte do burocrata

Esqueçam tantos papéis! Tirem nos todos os papéis e cada caneta com eles! Escreveremos poemas com mesas e pratos Diremos o que importa, o que não importa Não deveria valer tanto esforço

Não carimbem em qualquer lugar Inscrições estúpidas que digam Que um homem vale um pão, que o outro vale só o miolo O que é parte da vida é de todos que nasceram pra vivê-la Ninguém implora pelo que tem direito nato Se o país não for injusto

Mas ainda insistem estes papéis Em mãos engorduradas e macias Porque a máquina sempre come E quando come, matem-se os egoístas Só para se sentar com ela à mesa

Lei manca, muleta de papelão! Tanto tempo para sexta Trabalho dispensável: não é dispensável comer Tanto tempo para uma cesta

Mas chega sempre a manhã Tão silenciosa quanto a luz Tão certa quanto está tudo isso errado E se ouve o som do fogo em que se queimam velhos contratos Para que renasça a dignidade do povo

  • Jota Teles