Chove

Por que eu conheceria à mim mesmo Eu que nunca me fui apresentado Senão pela histeria dos outros Senão pela anarquia triste do dinheiro Ou quem sabe pela pele roxa da solidão

Mas não para de chover E talvez porque não pare de chover Eu me sinta assim Secretamente irmão das coisas Que não tem irmão Invisível para mim mesmo através Dos meus próprios olhos Olhando de dentro e de fora

É o bastante estar aqui, eu sei Porque o tempo está sempre ocupado Não reclama das estações e seus tamanhos Não torna a luz maior ou menor por vaidade

Dirão o que? ‘Apenas passou aquele homem, como o vento Pela casa aberta’ Ou coisa menos bonita que essa ‘Ele amou, gritou, teve filhos e sobreviveu’ Se é que isso importa

Venha me ver, estou dormindo Em meu quarto dentro de mim Embaixo do telhado e da fachada acrílica Do cobertor estéril e por sobre a cama Farta Enquanto chove

  • Jota Teles